Quem acabará de vez com a aberração "desta" PT? É a pergunta que se impõe.
Mais uma OPA ameaça a PT, desta vez da espanhola Telefónica, aborrecida com a recusa da PT em vender a posição que detém sobre a brasileira Vivo. Será a PT uma coisa assim tão apetecível para a Telefónica? Aliás, no grande quadro global de negócios, será a PT assim tão apetecível para alguém que não seja o estado português e os seus amigos? Não sei. Mas o que motiva os espanhóis é outra coisa: se a PT não deixa os espanhóis avançarem sobre o - esse sim apetecível - mercado brasileiro, os espanhóis compram a PT e esperam assim resolver (eliminar) o problema.
Os "analistas" (como se chamam os tipos das análises) parecem divididos sobre a capacidade da PT em resistir a esta OPA. Eu não. Mas também não sou analista nem tenho recados de ninguém para "fazer passar".
Aliás, a suposta divisão dos "analistas" é apenas veiculada pelo Público, talvez com o fracasso da OPA da Sonae ainda na memória. O Diário de Noticias, talvez por ser mais amigo dos "amigos da PT", prefere apregoar a procura de um aliado poderoso para proteger a menina.
Mas mesmo na visão mais puritana - talvez até ingénua - do Público, onde se equaciona a possibilidade de quebrar a aberrante teia blindada que são os estatutos da PT, se encontram sinais do inevitável rumo da coisa.
Diz o Público no sub-título que «O peso dos accionistas portugueses na PT é "crucial" para o desfecho de uma OPA, já que a blindagem de estatutos, que limita em 10 por cento os direitos de voto, pode ser insuficiente para travar o negócio, consideram os analistas.» Ora, até poderia ser verdade se a questão fosse a dos "accionistas portugueses", mas os accionistas "portugueses" são, essencialmente, um grupo de "portugueses amigos da PT" que partilham a gestão da amiga com um outro amigo mais velho detentor duma Golden Share que, entre todos, criaram, defendem e adoram a blindagem. A Sonae também é portuguesa, o problema foi não ser amiga.
As tendências que marcam:
a) As fontes mais ligadas à ideia de que a OPA possa ser uma possibilidade, mesmo na versão idílica do Público, passam uma imagem pouco firme. Pedro Lino, que honestamente dá a cara, afirma que «O sucesso de qualquer OPA, hostil, ou não, depende do preço oferecido. Se for atractivo, é muito difícil a Portugal Telecom (PT) resistir sem a intervenção do Estado... são assim as leis de mercado.». Não me parece que as leis do mercado se possam confundir com a intervenção do estado. As leis da PT não são as leis do mercado: são as leis do estado, as leis dos "amigos da PT", as leis da blindagem, da Golden Share, as leis que nos (des)governam. Foram estas as leis que ditaram o falhanço da OPA da Sonae que, mesmo fraca e muito baseada em dívida, chegou para abanar a PT. Não se confunda uma coisa com a outra: com base nas leis do mercado, a portuguesa mas não amiga Sonae tinha comprado a PT.
b) Outros "analistas" cujas "análises" o Público também transmite, convenientemente anónimos, provavelmente amigos dos seus amigos e - evidentemente - também da amiga destes, lembram que «a OPA da Sonae foi chumbada sem o Estado usar a 'golden share'», como se a golden share precisasse de ser usada doutra forma que não apenas como fermento duma bela amizade. A golden share é, grosso modo, como a bomba atómica, uma arma de dissuasão que, podendo ser usada em circunstâcias extremas, serve sobretudo para manter os "amigos" debaixo de olho. Basta lembrar que ela existe para que o efeito funcione - o que já irritou a comissão europeia.
c) Fora a bandalheira e a batota resta, como acção honesta e pelas leis de mercado, o recurso a um aliado de peso - um novo "amigo". Esta é a visão que o Diário de Notícias apregoa. Necessáriamente será um amigo não português e já se fala mesmo no exponente Carlos Slim. Uma solução tão sensata quanto escolher as meias pela cor do cabelo: será o equivalente - na lógica dos amigos - a recusar vender Portugal a Espanha, para o entregar ao Méxic(o)ano. Se quiserem manter a dialectica da nacionalidade (e esquecendo a falta de coerência com a oferta da Sonae), terão de fazer algo de semelhante ao que fizeram para Pepe, Deco e Liedson, para manter a fraternidade num quadro nacional.
Mais tarde ou mais cedo, batotas e trafulhices não serão suficientes para adulterar a Razão. Os recursos - tal qual o dinheiro - não têm nacionalidade. O dinheiro - tal qual os recursos - não tem sustentação no vício, na desonra e no compadrio.
Não foi a Sonae. Pode não ser a Telefónica. Pode ser que seja de podre, na rua, num dia de tempestade...
sexta-feira, 28 de maio de 2010
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Viva MC,
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