terça-feira, 23 de junho de 2009

A escola, o negócio e o bobo

Na passada sexta-feira foi a festa de final de ano na escola da minha filha. A bem dizer na escola dos meus filhos, uma vez que andam os dois no mesmo agrupamento mas, por um lado porque o mais velho não preparou qualquer actuação e por outro porque a mais nova era finalista do Jardim de Infância, familiarmente a festa acabou por ser um pouco por causa da pequenita e do seu diploma.

Aquelas festas habituais em que os miúdos nos mostram as suas habilidades e em que eles, nós e as educadoras e/ou professoras andamos babados por um bom par de horas, deram lugar a mega festivais ao estilo "Super Bock, Super Rock" em que reina a confusão e ninguém se entende.

Quando a ideia surgiu neste agrupamento, há três anos, foi apresentada como uma festa da comunidade educativa e, de caminho, uma forma de angariar fundos para a compra de uma carrinha de apoio às actividades com os alunos. Adepto que sou duma forte relação escola-comunidade, aderi e apoiei a ideia desde a primeira hora. A par de outros pais e encarregados de educação, por várias vezes tentei participar e ajudar no que fosse necessário mas, por qualquer estranha razão, a ajuda parecia não ser necessária nem benvinda.

Chegado o dia desse primeiro "arraial" percebi porquê: garantida que estava a mão-de-obra e como a ideia era que se gastasse lá a guita, a ajuda e envolvimento da comunidade eram consideradas um desvio à planificação estratégica e ao marketing. Os "profs" serviam a malta e a relação escola-comunidade ficava de lado mas ainda assim safava-se a festa dos mais pequenos e a carrinha... que lá se comprou depois do "arraial" do ano passado.

Este ano foi o 3º "arraial" e já nada tem de festa escolar. Mesmo sem carrinhas para comprar, o apelo do dinheiro fala tão alto que, por este andar, o financiamento do Ministério da Educação para esta escola poderá brevemente ser dispensável. Feita apenas à custa do esforço dos professores num quadro de mão-de-obra gratuita, quase escrava, recrutada quiçá sob que pretextos ou coações e engalanada com pomposos discursos e "mimos" entre a edilidade e a directoria, a festa fica envolta num binómio presa-predador onde uns brilham e colhem os méritos do trabalho arrancado aos outros. Não se vê envolvimento algum da comunidade à excepção do consumo a que são obrigados e incentivados: desde um bilhete de entrada exigido também aos alunos que actuam e aos professores que trabalham, ao folclore dos artistas convidados que põem e dispõem do programa para maximizar o negócio.

Entre as presas e os predadores ficam os que, como eu, se sentiram uns bobos a tentar vislumbrar as actuações dos seus filhos e a festa da escola. Um esquema multi-palcos que juntou à confusão dum "Super Bock, Super Rock" a dispersão dum "Rock in Rio" serve o propósito de relegar as crianças, que pelos vistos incomodavam a festa, para a "porta dos fundos" ou, como ouvi referirem, para a "festa dos pobres" onde só elas e as respectivas famílias podiam ver e ouvir, e ainda assim mal, aquilo que mais importava.

Talvez por isto o mais velho, já no 2º ano, não tenha preparado nada para apresentar. Eu sei que, se porventura fosse o seu professor, não o faria passar por isso. Valeu que a pequenita ainda não se apercebe destas coisas. Para o ano, se cá estivesse, pedia o diploma por via postal. Ainda bem que não vou estar. Para bobo já bastou duas vezes: ter acreditado numa boa ideia original que foi brutalmente desvirtuada e ter assistido ao repasto predatório.

Sem comentários:

Enviar um comentário