quarta-feira, 8 de julho de 2009

Confissões de um católico-romano

"Caritas in Veritate" ou, em tradução leiga "caridade em verdade", é um título espectável para uma encíclica mas cujo resumo disponível no público se encarrega de rapidamente atraiçoar.

Uma encíclica não é propriamente um post num blog qualquer, e o seu autor não é igualmente um autor qualquer. É pessoa informada, ou pelo menos com a obrigação de se informar, e é alegadamente, ou pelo menos deve aspirar a sê-lo, autor de inspiração. O que alguém como eu espera de um autor como Bento XVI é antecipação, liderança, inspiração. Ao proclamar a necessidade urgente duma "autoridade política mundial", Bento XVI emana conformismo, alinhamento e confirmação.

Os apelos, iniciativas e declarações tendentes à harmonização social desta ideia não são novos. Líderes políticos mundiais introduziram esta discussão em simultâneo com o cenário de uma nova divisa de reserva mundial, para substituir as ilusões criadas no último século e que inevitavelmente faliram. A marca do séc. XX foi uma "Caritas vis quod in infidus", que não foi mais que a primeira causa e argumento para a crise que agora vivemos.

Já é pena que Bento XVI não antecipe, não lidere nem inspire; pelo menos na matéria que mais interessa neste "momentum global". E lamento profundamente a auto-redução a um papel conformador, alinhante e sancionatório, perante soluções cujo resultado visa apenas a manutenção do "Status Quo" e duma "caridade forçada e em mentira".

Bem sei das boas intenções com que o documento é feito, e o carácter benigno que tal entidade deverá ter segundo o mesmo. Mas uma leitura á luz desses argumentos tem necessáriamente uma de duas falhas: erro de antecipação ou blasfémia.

Basta olhar para a situação em que estamos e analisar seriamente o percurso que fizémos ao longo do século passado para concluir que tais entidades nunca terão esse tal carácter benigno. É irracional pensar que a solução dum problema passa pelo reforço dos poderes de quem o provocou. Esta ideia só seria viável se a igreja já tivesse concluido a sua missão no mundo: a de evangelizar todos os homens. Nesse caso, e mesmo discordando moralmente da forma, era aceitável considerar que ela contribuísse para uma "Caridade em Verdade" ainda que pela via da força. Mas Bento XVI tem obrigação de saber que tal missão está longe de ser cumprida. Ao defender uma solução à luz deste príncipio estariamos perante um erro de antecipação.

Só resta a (quase) blasfémia. Uma solução deste género implica muita fé na bondade humana. Pior ainda, muita fé na bondade de homens com poder! Deus é Deus e os homens são isso mesmo: humanos. Não me parece que colocar os homens no papel de Deus seja uma intenção do chefe da Igreja Católica.

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