quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

De crianças mimadas a homens grotescos: um produto do estado social

A ligação entre a Razão e o Pão é umbilical. Ao contrário do que quiseram estabelecer como convencional, não é a falta de Pão que leva à perda da Razão. Ao invés, é apenas através de atitudes racionais que se pode assegurar a subsistência a longo prazo.

O descalabro social a que assistimos, hoje em Londres, ontem em Atenas e amanhã um pouco por toda a parte, constitui a manifestação exterior de algo profundamente intrínseco ao homem contemporâneo: irracionalidade.

Nada mais natural para gerações que nasceram em "sociedades solidárias", com mecanismos de "protecção social" e "desenvolvimento sustentado", e que nunca vislumbraram sequer a necessidade de pensar ou tentar compreender como seria possível que milhões de seres vivos, em teoria inteligentes, aceitassem como valor de justiça suprema a "partilha pelo confisco".

Facto é que todos nós, em maior ou menor grau, reconhecemos ao nível familiar a necessidade de educar os nossos filhos para a adversidade, para o valorizar do esforço e a nobreza do mérito. Ainda que esteja já em fase de decadência, este é um traço que é ainda visível na génese do indivíduo de bom carácter, e aspecto considerado imprescindível de uma boa educação: obter por mérito, e não por favorecimento; adquirir pelo trabalho, e não pelo saque; valorizar a troca, e repudiar a esmola. Ser sério passa por não enganar o vizinho, ser honrado passa por retribuir o que se recebe - afinal, a essência do livre comércio.

Curioso como, em matilha social, o homem se transforma. Agrupados em gangs de variadíssima ordem - usualmente de cariz profissional, geográfico ou patrimonial - não hesitam em materializar os seus caprichos mais básicos. Caprichos, e não ambições. Uma ambição é legítima, desde que de forma racional, se conceba uma estratégia de se obter honradamente o que se ambiciona. Um capricho é próprio daquelas crianças mimadas, cuja família nunca soube transmitir a necessidade dum esforço de construção para aquisição de algo. Tudo é adquirido, não importa como nem quem o torna possível.

É fantástico como muitas famílias (ainda que por maioria de razão cada vez menos) sejam capazes de repreender e chamar a atenção dos seus membros mais pueris para a necessidade de valorizar o esforço de quem põe o Pão na mesa para, no ãmbito social, representarem a mesma infantilidade caprichosa perante os seus supostos iguais.

Em grupos profissionais, regionais, políticos, religiosos, económicos, étnicos ou qualquer outro expediente que o momento possa ditar, lançam-se na busca própria duma sociedade canibal que ousou instituir direitos adquiridos como base moral. Adquiridos a quem? Não interessa. Para quem? Para quem falar mais alto, ou para quem tiver mais força.

A inflação dos direitos, cujo único resultado possível é a alienação de todos e quaisquer direitos, é também a inflação da irracionalidade animalesca a que assistimos. Passamos, duma escala familiar com criancinhas mimadas, a uma escala de estado social global que só produz formas de vida acéfala com fortes instintos animalescos. Esta sociedade selvagem é, apenas e só, o produto acabado que andámos a produzir desde os finais do séc. XIX. É, afinal, o que merecemos.

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