segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Quando as massas superam a elite

Portugal avança, liderado pelas elites politólogas do colectivismo, naquilo a que os estatistas rotulam de "políticas contra-cíclicas" e que não passa de um eufemismo para contra-natura.

O défice do subsector estado aumentou em 154%, a+pesar de alguns taparem o sol com a peneira e preferirem enaltecer a "desaceleração significativa" do último mês. Faz lembrar qualquer coisa parecida com a sensação de conduzir um camião (ou autocarro já que estamos todos metidos nele) em direção a um muro e ficar contente por bater a 100km/h, quando podia ter batido a muito mais.

No mesmo periodo, o saldo orçamental da (IN)segurança social foi comido em mais de metade, descendo cerca de 905M euros para um valor de pouco mais de 600M euros. Ou seja, mais um rombo igual a este e passará a valores negativos da ordem de 300M euros.

Este cenário nem se pode classificar com eufemismos do género de "políticas contra-cíclicas" já que o mesmo não se aplica por norma a despesas correntes (ou eufemisticamente sociais) mas sim a despesas de "investimento". A única coisa em que este dinheiro está a investir é na desgraça humana.

Isto numa altura em que o regular cidadão já se adaptou ao que o ciclo económico exige e começa a tomar atitudes mais racionais e de acordo com as condições do mercado. Os depósitos dos portugueses aumentaram uma vez mais e confirmam a tendência que se regista desde julho deste ano.

Os portugueses já mostraram que compreenderam o que devem fazer perante a actual conjuntura económica: poupar. Ao contrário das elites que parecem apostadas em "avançar Portugal" em sentido inverso e em direção ao muro, iludindo-se com a mediocridade duma suposta (e certamente temporária) "redução de velocidade".

Ao que consta foram os romanos que afirmaram que Portugal "não se governava nem se deixava governar". Eu diria que se nos deixarem, os portugueses até se governam muito bem. Sofrem é da fraqueza intelectual de se deixarem manipular quando escolhem os seus governantes. Deixam-se instrumentalizar e cedem ao dramatismo e à mise-en-scène político-partidária.

Mesmo considerando os erros generalizados dos últimos anos, induzidos através de políticas monetárias estatizadas próprias duma economia mista e não reflexo de um mercado livre, a esmagadora maioria dos portugueses consegue organizar a sua vida quotidiana com base em critérios medianamente racionais. Mas se no quotidiano se mostram capazes de discernir sobre as melhores opções e planear minimamente o seu curso de vida, já na hora de optar politicamente parecem exacerbados por um turbilhão de emoções que lhes toldam a mente.

Este factor faz-se sentir ainda mais porque a atitude mais racional é aquela que muitos tomam e que redonda em abstenção: não sancionar nenhuma das propostas partidárias. Este facto implica que, para além das claques partidárias que nada mais vêm nem que lhes entre pelos olhos acima, restam para votar os descontentes e os desesperados. O descontentamento leva ao voto de "raiva" e o desespero ao voto de "urgência", em prejuízo do voto racional.

O voto racional é aquele que defende o interesse próprio do eleitor. Este interesse próprio deve ser aferido de forma racional e não com base em urgências ou raivas. O interesse próprio racional não se pode confundir com caprichos ou emoções do momento. É isto que os portugueses não parecem ser capazes de exercer, à excepção talvez dos abstencionistas conscientes. Este facto é um indicador importante para avaliar as causas da situação portuguesa.

Aparentemente a construção política do país é o seu principal entrave ao desenvolvimento. As massas, individualmente e na sua maioria, governam-se relativamente bem e, para o provar, basta notar o sucesso individual de muitos portugueses cá e pelo mundo. A elite mais não faz que perpetuar-se em lutas pelo acesso ao poder, como o demonstra o estado da nação.

A questão impõem-se: o que fazer nas próximas legislativas?

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