Já por várias vezes ouvimos a expressão "áreas cinzentas" ser aplicada para descrever situações ou eventos pouco claros. No entanto, a marca dos nossos tempos tem sido a propagação de valores relativos, subjectivos... irracionais. "Só sei que nada sei" é para mim a negação do humano.
Enquanto ontem anotava uns pensamentos, cruzei-me com esta pérola onde se fazia o seguinte apelo: " "(...)E por favor não baseie a sua resposta na falácia das expectativas racionais(...)". Vindo de um professor é, à primeira vista e no mínimo... surpreendente. Além de ter deixado a promessa de lá voltar, fui mesmo convidado a fazê-lo depois de instintivamente lá ter deixado cair um breve desabafo. Voltei, desta vez com tempo, e percebi que afinal o artigo fazia parte de um ensaio mais alargado composto por três partes:
A cor da verdade é o cinzento (parte 1)
A cor da verdade é o cinzento (parte 2)
A Cor da verdade é o cinzento (parte 3)
Tive dúvidas sobre se deveria discorrer de um texto sobre economia escrito por um economista. O mais certo seria discorrer e ser corrido. Mas se enquanto lia pensei, porque não escrever o que a mente produziu? Não é a Razão própria dos Homens? Então porquê silenciar o que a mente produz?
Não tenho quaisquer veleidades em produzir pensamento económico sustentado. Dificilmente sobreviveria a um exercício detalhado sobre qualquer doutrina economica ou sobre qualquer economista - com a possivel excepção de Adam Smith. Mas sabendo que as palavras têm um significado e com a convicção de que as contradições são impossíveis, descodificar ideias à luz da Razão torna-se um exercício... humano.
O meu breve desabafo valeu-me uma questão: "Eu não sei se "ficou banzado" vem no sentido de concordar ou discordar com as expectativas racionais. Mas isso é uma pergunta em aberto que lhe deixo. Em todo o caso, os professores de economia desejavelmente têm capacidade crítica. Por isso existem diversas escolas de pensamento. (...) Sobre a formação de expectativas: eu não acredito na ideia de que os agentes não cometem erros sistemáticos de previsão. Isso causa-lhe estranheza? Respeito quem acredite, mas apenas é um pressuposto. Ninguém o demonstra quando o usa."
Não consigo encontrar forma de discordar das expectativas racionais sem renunciar ao homem como ser racional. Logo, as expectativas racionais são uma premissa absoluta. Reconheço, isso sim, - e denuncio - um código moral que nos é imposto há séculos para nos fazer crer no contrário. A apologia de que tudo é relativo e que não há certezas, a proclamação de uma dimensão comum em simultâneo com a renuncia da existência das suas partes.
A instituição de um "bem supostamente comum" definido por uma entidade singular é uma contradição. Mas não havendo contradições há uma premissa que tem de ser revista: "o bem comum". Adam Smith define o "bem comum" como a soma das acções dos individuos na defesa do seu interesse próprio. Eu concordo. Mas as várias (eu chamaria novas - no contexto da história) escolas do pensamento querem um e ao mesmo tempo recusam a existência do outro. Fazem-no pela força, pela lei, pela limitação das liberdades necessárias à sua existência.
Escolas de pensamento: o termo "pensamento" está mais correcto do que se poderia imaginar. Sendo a Razão a essência do humano ela é intrínseca ao homem. Logo a Razão está a montante do pensamento, e à mercê deste. É por isso muitas vezes subvertida e só o pode ser por homens de Razão. É por isso que a imposição da obrigatoriedade de accorrer a todos nos é apresentada como virtude. Esta linha de... pensamento... é mais perigosa do que se possa imaginar. Ela não se limita a promover os incapazes e os necessitados. Na medida em que a factura é sempre enviada aos mais capazes, ela tem o potêncial para transformar construtores em salteadores ou produtores em pedintes. Se alguém, no seu próprio interesse, pode deixar de contribuir para passar a apenas receber, é inteiramente racional que o faça. É o código moral de cada individuo que separa os que resistem dos que cedem à tentação. Um código moral que está extinto, substituido pelas "várias escolas de pensamento".
Escolas com a capacidade de esconder a verdade e o óbvio dos olhos (e das mentes) da massa anónima. Que têm até a clareza de classificar de inimigo aqueles que consigo partilham o mundo irracional. É uma manobra inteligente para esconder o verdadeiro inimigo: a Razão.
Ao lêr "o Estado não deve conduzir acções de qualquer tipo: nem sequer supply side politics, que os mais fervorosos fãs do livre funcionamento do mercado defendem." não posso deixar de pensar como é que um "fervoroso fã do livre funcionamento dos mercados" pode defender o intervencionismo na oferta. Considerando o mercado como o conjunto da oferta e da procura, isso seria aplicar uma ideia não ao mercado mas apenas a metade do mercado. A não ser que o mercado tenha passado a ser constituido apenas pela procura, o que me parece irracional. Num exercíccio simples se vê como esses fãs, ultra ou neo-liberais (como se usam chamar) não são a solução pois fazem parte do problema. No entanto são claramente classificados como o grande inimigo para esconder a verdade.
No seguimento surgem algumas perguntas (dirigidas ao inflaccionista - Nuno Branco) às quais não darei uma resposta directa, mas sobre as quais não pude deixar de... pensar.
"Resulta da afirmação do Nuno que todo o sistema de segurança social deveria desaparecer cabendo a cada indivíduo a gestão das suas reformas?"
O conceito de propriedade e de liberdade são absolutos. Um individuo só pode ser considerado proprietário das SUAS reformas se for LIVRE para decidir sobre elas. Propriedade condicionada não é propriedade: é usofruto.
"assumo também que é contrário à emissão de moeda por uma autoridade do tipo Banco Central(...)"
Assumindo que a função primordial da moeda (dinheiro) é guardar em valor o produto do trabalho de cada um (facilitando a troca deste pelo produto do trabalho de outros), um homem pode considerar-se automáticamente destituido do produto do seu trabalho quando é obrigado a guardá-lo sob a forma de um documento (papel-moeda) cujo valor depende do arbítrio e acções alheias (governos). É mais uma questão filosófica do que económica. O que leva à alteração dos preços na maior parte dos casos não é o aumento do valor da riqueza mas sim a perca do valor da moeda. Invariavelmente devido a emissão excessiva - quer em forma de dívida publica (governos) quer em forma de liquidez (bancos centrais).
Filosoficamente podemos até perguntar a que se devem os aumentos tradicionais de ano novo. Será que nascem muitas pessoas em Janeiro? Será que se produz menos depois do Natal? Ou será que se assumiu (de forma irracional) que em cada ano que passa as nossas notas valem menos? Que há mais dívida? Que há mais moeda emitida sem que haja necessáriamente mais riqueza criada?
Uma coisa sei. Desde sempre que os governos procuraram uma forma de emitirem a seu próprio dinheiro. Antigamente quando a coroa ficava invariavelmente sem dinheiro mandava recolher todas as moedas (em ouro na época) e retirava uma parcela a cada uma, devolvendo-as mais tarde à circulação e aproveitando o que tinha retirado para cunhar mais moeda que guardava para si. A consequência era que a moeda devolvida tinha menos valor. Se antes uma era suficiente para comprar um pão, após esta operação passavam a ser necessárias duas. Este é o significado etimológico de inflacção. Que os manuais definam coisa diferente - por conveniência ou necessidade - só significa que abdicaram da racionalidade.
Pois bem, o século XX foi um sucesso na medida em que os governos conseguiram finalmente uma forma de emitir a sua própria moeda. Até conseguiram forma de lhe retirarem uma parcela sem que ninguém veja, salvaguardando assim o poder de continuar a fazê-lo indefenidamente. Foi o sucesso de uma entidade abstracta e supra humana e a derrota do Homem e da Razão.
Aceito que seja pouco provável que cada um ensine mais do que aquilo que aprendeu dos seus professores. Mas estou convicto que a verdade e a Razão são incolores e que essa característica as torna, infelizmente, fáceis de esconder.
domingo, 25 de janeiro de 2009
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"Invariavelmente devido a emissão excessiva - quer em forma de dívida publica (governos) quer em forma de liquidez (bancos centrais)."
ResponderEliminarHá demonstrações empíricas da falácia deste comentário. Como lida com elas?
Adicionalmente, se o economista devia antes de mais ser um filósofo, filósofos que confundem expectativas racionais com razão, definitivamente seriam maus economistas.
Da mesma forma que lido com tudo o resto: submete-las-ei ao escrútinio do minha cabeça. Se não forem como os manuais que deram outro significado a palavras como "inflação" talvez não seja tão "corrido".
ResponderEliminarEstá a afirmar que foram os filosofos que nos arrastaram para a crise e não os economistas?
Há demonstrações empíricas da falácia deste comentário.
ResponderEliminarConfesso que fiquei à espera. Teremos direito a conhece-las, ou bastará afirmar a sua existência e já está?