"o Estado não gastou, nem envolveu, até este momento, qualquer dinheiro dos contribuintes nestas operações". Esta brilhante afirmação pertence a Teixeira dos Santos, e foi proferida na Assembleia da República. O Ministro das Finanças respondia aos senhores doutores excelentíssimos deputados que, mais de três meses (sim três!!!) após o anuncio da nacionalização, descobriram que afinal o BPN não seria tomado pelos militares mas sim através de recurso a euros. Compreensível demora face a tão complicado raciocínio!
Há três meses atrás não houve uma só voz, ou voto, contra a nacionalização. Não ouve ninguém que achasse natural que fossem os accionistas a suportar a falência do banco caso fosse esse um inevitável desfecho. Mas após três meses de longa reflexão eis que a indignação se instala por não haver um accionista que lá tenha posto um cêntimo. Confesso que não vejo por que razão alguém há-de pôr o que quer que seja em algo que já não possui, e a quem nem sequer foi dada qualquer hipótese continuar a possuir. É algo que me escapa. Se fôr um qualquer novo conceito de propriedade diferida no tempo só espero que a "coisa" não pegue, ou ainda vamos todos ter de pagar impostos, seguros, inspecções ou reparações de carros ou quaisquer outros bens que tenhamos vendido a outrém ou ainda pior, como neste caso, de quaisquer bens que nos tenham sido penhorados, executados ou expropriados.
O facto é que a nacionalização do BPN foi um favor aos accionistas que já não acreditavam no banco e uma expropriação aos que ainda tinham vontande de lutar e confiança nas capacidades da empresa que detinham. Desconfio que pelo meio se aproveitou para que o poder político tomasse as rédias do processo e limitar qualquer descoberta mais embaraçosa relativa a negócios do grupo SLN/BPN com o estado ou financiamentos partidários. Talvez por isso há três meses ninguém se tenha oposto ao assalto mas, claro está, este é apenas um desabafo atribuível a um terrível especulador sem escrúpulos culpado pela crise que vivemos.
Mas a lentidão de raciocínio é, ao que parece, uma característica natural dos senhores doutores excelentíssimos. Quando o senhor doutor excelentíssimo primeiro-ministro anunciou o aumento de capital da CGD (mil milhões de euros) ninguém achou estranho que de repente se inventasse tanto dinheiro. Já em finais de 2007 um outro aumento de capital (150 milhões) tinha sido necessário para manter os rácios de solvabilidade da CGD. Isto para não referir um outro de 800 milhões em 2004, necessário para cumprimento de novas normas contabilisticas em que certas participações e activos deixaram de poder ser considerados como tal.
A lógica prevalecente em S. Bento parece apenas reclamar como necessário saber para onde vai o dinheiro, sem nunca se preocupar com a sua origem. Certo está que é uma lógica natural em saqueadores que nada sabem sobre as origens do dinheiro pois nada produzem, dedicando-se apenas ao saque - nada de novo. Mas seria razoável esperar uma maior preocupação com as aparências do que aquela que efectivamente se verifica. Esta é a novidade que parece indicar que os senhores doutores excelentíssimos já consideram seguro sacar apenas a cobro do código moral que promovem e disseminam há várias décadas: "o Estado tudo pode e tudo faz, em nome do bem comum" - quão nobre e religioso pensamento!
É do conhecimento geral que os euros são emitidos pelo Banco Central Europeu (BCE) e qualquer razoável cidadão sabe que são pagos, seja através da inflação ou da dívida pública. Igualmente se sabe que os impostos também financiam o estado e que esses são riqueza subtraida a quem a produz. O que se viu em S. Bento foi que 230 senhoras doutoras excelentíssimas mentes não quiseram descodificar a afirmação de Teixeira dos Santos e o que ela encerra. São 230 senhoras doutoras excelentíssimas almas que se regem pelo mesmíssimo código moral.
Afinal que dinheiro terá o estado que não seja dos contribuintes? Qual será o património do estado que não pertença aos contribuintes? Afinal o que é que os senhores doutores excelentíssimos acham que é o estado? De quem é o estado? Quem, que não os contribuintes, lhe entregará património, em nome de quê e para que fim? Sabemos que os senhores doutores excelentíssimos não possuem grande rapidez de raciocínio mas nós, os especuladores, temos sido muito pacientes.
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009
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