sexta-feira, 28 de maio de 2010

Não foi a Sonae, será a Telefónica?

Quem acabará de vez com a aberração "desta" PT? É a pergunta que se impõe.

Mais uma OPA ameaça a PT, desta vez da espanhola Telefónica, aborrecida com a recusa da PT em vender a posição que detém sobre a brasileira Vivo. Será a PT uma coisa assim tão apetecível para a Telefónica? Aliás, no grande quadro global de negócios, será a PT assim tão apetecível para alguém que não seja o estado português e os seus amigos? Não sei. Mas o que motiva os espanhóis é outra coisa: se a PT não deixa os espanhóis avançarem sobre o - esse sim apetecível - mercado brasileiro, os espanhóis compram a PT e esperam assim resolver (eliminar) o problema.

Os "analistas" (como se chamam os tipos das análises) parecem divididos sobre a capacidade da PT em resistir a esta OPA. Eu não. Mas também não sou analista nem tenho recados de ninguém para "fazer passar".

Aliás, a suposta divisão dos "analistas" é apenas veiculada pelo Público, talvez com o fracasso da OPA da Sonae ainda na memória. O Diário de Noticias, talvez por ser mais amigo dos "amigos da PT", prefere apregoar a procura de um aliado poderoso para proteger a menina.

Mas mesmo na visão mais puritana - talvez até ingénua - do Público, onde se equaciona a possibilidade de quebrar a aberrante teia blindada que são os estatutos da PT, se encontram sinais do inevitável rumo da coisa.

Diz o Público no sub-título que «O peso dos accionistas portugueses na PT é "crucial" para o desfecho de uma OPA, já que a blindagem de estatutos, que limita em 10 por cento os direitos de voto, pode ser insuficiente para travar o negócio, consideram os analistas.» Ora, até poderia ser verdade se a questão fosse a dos "accionistas portugueses", mas os accionistas "portugueses" são, essencialmente, um grupo de "portugueses amigos da PT" que partilham a gestão da amiga com um outro amigo mais velho detentor duma Golden Share que, entre todos, criaram, defendem e adoram a blindagem. A Sonae também é portuguesa, o problema foi não ser amiga.

As tendências que marcam:

a) As fontes mais ligadas à ideia de que a OPA possa ser uma possibilidade, mesmo na versão idílica do Público, passam uma imagem pouco firme. Pedro Lino, que honestamente dá a cara, afirma que «O sucesso de qualquer OPA, hostil, ou não, depende do preço oferecido. Se for atractivo, é muito difícil a Portugal Telecom (PT) resistir sem a intervenção do Estado... são assim as leis de mercado.». Não me parece que as leis do mercado se possam confundir com a intervenção do estado. As leis da PT não são as leis do mercado: são as leis do estado, as leis dos "amigos da PT", as leis da blindagem, da Golden Share, as leis que nos (des)governam. Foram estas as leis que ditaram o falhanço da OPA da Sonae que, mesmo fraca e muito baseada em dívida, chegou para abanar a PT. Não se confunda uma coisa com a outra: com base nas leis do mercado, a portuguesa mas não amiga Sonae tinha comprado a PT.

b) Outros "analistas" cujas "análises" o Público também transmite, convenientemente anónimos, provavelmente amigos dos seus amigos e - evidentemente - também da amiga destes, lembram que «a OPA da Sonae foi chumbada sem o Estado usar a 'golden share'», como se a golden share precisasse de ser usada doutra forma que não apenas como fermento duma bela amizade. A golden share é, grosso modo, como a bomba atómica, uma arma de dissuasão que, podendo ser usada em circunstâcias extremas, serve sobretudo para manter os "amigos" debaixo de olho. Basta lembrar que ela existe para que o efeito funcione - o que já irritou a comissão europeia.

c) Fora a bandalheira e a batota resta, como acção honesta e pelas leis de mercado, o recurso a um aliado de peso - um novo "amigo". Esta é a visão que o Diário de Notícias apregoa. Necessáriamente será um amigo não português e já se fala mesmo no exponente Carlos Slim. Uma solução tão sensata quanto escolher as meias pela cor do cabelo: será o equivalente - na lógica dos amigos - a recusar vender Portugal a Espanha, para o entregar ao Méxic(o)ano. Se quiserem manter a dialectica da nacionalidade (e esquecendo a falta de coerência com a oferta da Sonae), terão de fazer algo de semelhante ao que fizeram para Pepe, Deco e Liedson, para manter a fraternidade num quadro nacional.

Mais tarde ou mais cedo, batotas e trafulhices não serão suficientes para adulterar a Razão. Os recursos - tal qual o dinheiro - não têm nacionalidade. O dinheiro - tal qual os recursos - não tem sustentação no vício, na desonra e no compadrio.

Não foi a Sonae. Pode não ser a Telefónica. Pode ser que seja de podre, na rua, num dia de tempestade...

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Como poupar 1 700 MILHÕES Euros sem aumento de impostos

Recebido via e-mail, uma proposta para como poupar 1700 Milhões de Euros se aumento de impostos e sem cortes no investimento.

Sabendo que se podia e deveria até ir mais longe, aqui está pelo menos uma boa base de trabalho para gente séria. Vale a pena ler, sobretudo os anexos, que revelam informação de forma simples e reveladora do estado da corte. Aqui fica:

MAPA-RESUMO

MAPA-ESPECIFICADO


CONCLUSÕES/MANIFESTO

1 A necessidade de uma cobertura adicional de mil e setecentos milhões de euros seria perfeitamente dispensável se cada Ministério e demais Instituições Gerais do Estado, em cada 100 euros, poupar um euro e onze cêntimos aproximadamente;

1.1 Em anexo segue o mapa das àreas de Cada Grupo/Ministério onde se propõem os cortes orçamentais de 1,1% do "bolo" total;

2 Não foram mexidas as dotações orçamentais para a Saúde, ensino Secundário, Segurança Social e Cultura, tão pouco, não foi mexida a rubrica (50) dos investimentos do Plano em cada área MAPA-RESUMO;

3 As Autarquias Locais e as Regiões Autónomas mantêm totalmente as suas dotações orçamentais;

4 Pedir sacrifícios ao Povo (trabalhador) português mantendo incólume as despesas correntes da Administração Pública Central é injusto e viola o princípio constitucional do direito à igualdade, lato sensu;

5 Justifica-se pois que o Governo mude de atitude, mostre coragem, DÊ O EXEMPLO, e não aumente os impostos directos e indirectos;

6 Caso o Governo nada faça, está preparada uma petição a apresentar na Assembleia da República exigindo a alteração à lei do orçamento de Estado, em especial ao Mapa II ("Despesas dos Serviços Integrados, por Classificação Económica, especificadas por Capítulos"), lei publicada no Diário da República, 1.ª Série, N.º 82, de 28 de Abril de 2010;

7 Precisaremos, então, de 5.000 assinaturas para que esta petição dê seja discutida directamente no Plenário da Assembleia;

8 Cabe a ti, cidadão português, continuares "carneirinho", acenar o lenço ao Papa, e a engolir o que te colocam nos olhos (Benfica, Mundial de Futebol e Fátima), ou então mostrares que és homem e mulher de corpo inteiro, que se preocupa com o futuro
dos teus filhos e que pretende moralizar esta "bandalheira" das contas públicas do Estado;

9 Em especial quando serão sempre aos mesmos a pedir-se sacrifícios pelas asneiras que fazem com os impostos que pagamos, sustentando políticos (e clientelas) que não defendem Portugal, nem o seu Povo, muito menos as classes mais desfavorecidas.
10 Quem não tem dinheiro e não pode pedir emprestado, então que poupe até tê-lo. Isto é básico. Devia ser assim nas famílias, nas empresas e devia ser com o Estado!
11 Para que não acusem de apenas "deitar-abaixo", está aqui uma proposta concreta que calaria a União europeia e as agências de rating;

12 Mexe-te! Mostra que és patriota e QUE não estás conivente com com este estado de coisas. Ao menos uma vez na vida ganha coragem para resistir e reclamar. Não sejas covarde;

13 Circula este e-mail e seus anexos pelos teus amigos e conhecidos e pedes-lhe que façam o mesmo;

Não deixes que te levem a melhor outra vez!
Não pagues mais impostos injustos e injustificáveis!
Mostra que és português e não um mero tuga!
Não sejas outra vez "carne para canhão"!
Atreves-te?

quinta-feira, 29 de abril de 2010

E se fossem todos à merda, heim?!

Tens que ter medo!!! DEVES TER MUUUUUIIIITTTTOOOO MEDO!!! Os mercados andam aí e o ataque é impiedoso. Eles vêm de noite, às escondidas, e começam por levar as crianças. Depois começam por soltar as feras de estimação. Sim, porque um mercado que se preze tem sempre uma fera, mais ou menos como um humano que se preze tem sempre um cão ou um gato. Depois de soltarem as feras, levam os mais débeis e fracos primeiro e os mais fortes logo de seguida. Depois submetem os primeiros a impiedosa tortura, perante o olhar dos segundos, que assim vergam psicologicamente. É assim que os mercados vão conquistando o nosso planeta, como fizeram com tantos outros. Sim, porque os mercados são uma raça que destroi e avança de planeta em planeta, até à conquista total do universo.

E se fossem todos à merda, heim?!

Lembras-te de um velho anúncio de televisão sobre flores e um cheirinho de perfume? Então pergunto: E se de repente um desconhecido te pedir dinheiro? Tu emprestas, claro! Sem fazer perguntas nem estabelecer regras ou contrapartidas. Caso contrário tu és um mercado e devias ter vergonha. Serás o próximo alvo a abater - um inimigo da raça humana. Pior do que um mercado, serás um humano traidor que te vendeste aos invasores.

O juro da dívida Portuguesa, Grega, Espanhola, etc, é estabelecido LIVREMENTE por acordo entre quem tem o dinheiro e quem o quer. É justo que se alguém quer algo de outrém, ambas as partes negoceiem livremente e cheguem (ou não) a acordo. Convém aqui esclarecer que a dívida soberana (dos estados) não está indexada. Quando a taxa varia, ela afecta a dívida a emitir e não a que já está emitida, ou seja: cada empréstimo é um negócio próprio. Ao contrário do que acontece com a Maria ou o António, cujo juro do empréstimo bancário é manipulado por esses mesmos governos através dos bancos centrais (no caso do euro, através do BCE e da euribor) e em que a liberdade da negociação é limitada ao spread. A taxa de spread varia em função das garantias e do risco de quem pede o dinheiro e é também fixada em cada negócio de forma independente e (mais ou menos) livre. Ou seja, o risco e a credibilidade do DEVEDOR estabelece a taxa de juro. A rentabilidade e o ganho são por natureza proporcionais ao risco. A vida é assim.

Portanto, da próxima vez que um desconhecido vos pedir dinheiro e vocês não lho emprestarem, ou simplesmente pedirem garantias e estabelecerem condições, isso será um acto ofensivo da vossa parte - um ataque - lançado sobre uma presa indefesa que pretende viver à vossa custa - coitadinha!!!

O que te digo parece-te absurdo e não sabes porquê? Não entendes assim? não sabias? Então tu acreditas quando os telejornais e os comentadores te apresentam os parasitas como vítimas e as verdadeiras vitimas - os que sustentam as sanguessugas - como um agressor, e achas que não tens nada a ver com isto? Aceitas que quem produz tenha de depender da autorização e licença de quem nada faz, e que quem te dá trabalho, assegurando o teu ganha pão, te seja apresentado como um inimigo a abater, e acreditas que podes escapar ileso? Deixas que subvertam os teus principios morais e ainda te consideras inocente? Só porque não entendes ou não queres entender?

Não, meu amigo, não te limpas assim com essa facilidade nem lavas a consciência assim tão simplesmente. Eu não deixo. O culpado encontra-se no espelho que tens à tua frente.

Leste sem reacção, nos jornais desta manhã, noticias sobre a realidade que agora estranhas - a realidade dum "mundo que não sabe que já não existe" - e mesmo assim tens o despudor de te considerares inocente?

Consegues explicar-me porque é que juntas o teu silêncio ao coro de crianças mimadas em que se transformou a sociedade, e que aclama coisas como: «Ministério da Cultura dá emprego a 50 jovens.(...) Gabriela Canavilhas diz é preciso criar um modelo que permita um aumento efectivo de receitas para apoio ao cinema.(...) Inês de Medeiros defendeu a necessidade de taxar “as novas plataformas onde a publicidade se foi instalar” e a obrigação das televisões privadas financiarem o audiovisual.(...) UGT defende que estado continue a pagar subsídio de desemprego nos primeiros meses após um desempregado começar a trabalhar.(...) Tribunal de Contas recomenda a governo aumento de capital do Metropolitano de Lisboa para evitar falência técnica.(...) Assembleia Municipal de Beja chumbou privatização do Diário do Alentejo.(...) Teresa Lago diz que (...)tem que haver mais dinheiro.(...) O Estado vai apoiar com 82 milhões de euros (...) muito aquém do desejado, diz a Confap.(...) Empresa pública endivida-se para comprar imóveis ao Estado.(...) Gabriela Canavilhas, anunciou ontem que o Estado vai dar 6,6 milhões de euros até Junho para o Fundo de Investimento para o Cinema e Audiovisual.» ?

Será que esperas que um dia chegue a tua vez? Aconchegas a alma com o pensamento de que um dia, se precisares, também poderás beneficiar? É por isso que agora te acanhas?

Esperas que colabore no branquamento da tua opção? Crês que essa seria a atitude correcta da parte de um amigo? Um gesto de amizade da minha parte? Diz-me então que género de amizade posso eu esperar de alguém que, secretamente, anseia pelo momento de se tornar um parasita?

Olha á tua volta. Mas daqui em diante tenta VER enquanto olhas.

O FMI declara que não se deve acreditar demasiado nas agências de rating... a não ser quando elas dizem coisas boas, claro! Mesmo que seja mentira, se for benéfico está tudo bem.

O Presidente do BCP afirma que "se Portugal esta sob ataque, foi porque se pôs a jeito"... e voilá como, apesar de se denunciar a atitude pouco responsável da tua querida vítima, numa estucada se sanciona a inversão dos papeis. Será que a Maria e o António, devedores do BCP e actualmente incapazes de devolver o que pediram emprestado, também estão sob ATAQUE do BCP porque se puseram a jeito?

A indefesa vítima apela às crianças mimadas a que te juntaste e afirma que "o país tem de responder a este ataque dos mercados". Claro que deixar de emitir mais dívida está fora de questão. Então e os portugueses, sem estado, iriam viver do quê? A solução, diz a vítima, está no país...

O país?! O país não tem de fazer nada. O país NÃO DEVE FAZER NADA. Quanto mais alguém fizer, construir e criar uma milésima que seja de riqueza ou valor, mais os parasitas travestidos de vítimas vão exigir, pilhar e sugar. Afinal, para que serve um hospedeiro, senão para garantir a sobrevivência dos parasitas?

Desta forma, através da subversão do conceito semântico da palavra "ATAQUE", se transformou e inverteu a relação entre vítima e agressor.

Não me peças para branquear a tua cobardia. A opção de te tornares parasita é tua. Já tens amigos que cheguem e não serei vosso hospedeiro. Pelo menos de livre vontade não o serei. Podes, também tu, ir à merda.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Sociedade ou saciedade? O estigma da solidariedade...

Um por todos e todos por quem?

Já que o tempo para a escrita e desabafos escasseia - uma vez que nem todos podem disfrutar da solidariedade social e têm mesmo de fazer alguma coisa pela vida - desta feita aproveitarei uma mensagem alheia (que me chegou por mail) e que ilustra bem o caminho que nos vem sido traçado desde os primórdios do "estado social".
Foi-me enviada como verdadeira por um amigo e aqui fica:

Um professor que nunca tinha reprovado ninguém, reprovou numa ocasião uma turma inteira.

Foi num curso de economia. A turma insistia que o socialismo era praticável e que através da simples cooperação tendo em vista um bem comum, se obteria um resultado mais igualitário e justo do que aquele que se obtinha através dos mecanismos de competição e emulação.

Ou seja, sustentava a turma que o socialismo era mais eficaz e justo que o capitalismo.

O professor argumentou em vão pelo que, já em desespero, propôs a seguinte experiência:

Fariam os testes habituais, e a nota atribuída a cada um seria a média da turma. Os alunos aceitaram de imediato.

Todos tinham agora um objectivo comum e o resultado não poderia deixar de ser igualitário e justo.

No 1º teste, a média foi 15.

E aqui começaram os problemas. Aqueles que tinham estudado e a quem o teste tinha corrido bem, e que legitimamente podiam esperar um19 ou um 20, ficaram a remoer o desagrado.

Aqueles que nem sequer tinham pegado no livro, resplandeciam de felicidade e louvavam o socialismo. E a verdade é que se provava que todos passavam e com uma boa nota.

No 2º teste os que antes tinham estudado e feito bons testes, entenderam naturalmente que não necessitavam de se esforçar tanto. Já que iam ter 15 no máximo, escusavam de se matar a estudar. Os que antes não tinham pegado nos livros, mantiveram as mesmas opções. Não era necessário, a boa nota estava garantida.

Como é evidente, a média baixou para 11 e aí já ninguém ficou especialmente satisfeito. No teste seguinte a média foi 8.

Instalou-se a desavença, fizeram-se acusações de sabotagem, de egoísmo, de falta de solidariedade, etc.

O resultado foi que ninguém mais queria estudar para não beneficiar os outros. E a turma reprovou.

Não sei se isto é verídico, mas, mutatis mutandis, foi basicamente o que aconteceu nas cooperativas agrícolas soviéticas, portuguesas, etc.

Moral da História:

Sem recompensas individuais, não há incentivos duradouros ao esforço. Tirar aos que se esforçam para dar aos que não se mexem conduz, mais tarde ou mais cedo, à discórdia e ao fracasso, porque quando metade de um grupo interioriza a ideia de que que não precisa trabalhar, pois a outra metade irá sustentá-la, e quando esta outra metade entende que não vale mais a pena trabalhar para sustentar a primeira metade, então chegamos ao começo do fim .

O sistema de impostos progressivos e a inflação de subsídios "sociais", são os instrumentos privilegiados desta loucura socializante.

Obrigado ao António Farrajota, por esta "oportunidade de partilhar"...

terça-feira, 16 de março de 2010

PEC: Parvos, Estúpidos e Calhaus

Imagine que precisa de pagar 15 mil euros de uma dívida qualquer. Aliás, imagine que esses 15 mil euros não são a dívida propriamente dita mas sim o montante que lhe falta todos os anos, após o que recebe de ordenado e/ou outros rendimentos, para pagar todas as suas despesas. Na verdade, as dívidas que acumulou nos ultimos vinte anos ascendem a um montante de 145 mil euros. Acha que resolve o problema se cortar 35 euros por mês (420 euros/ano) na mesada do puto? Imagine então qual seria o objectivo de uma familia responsável: reduzir as despesas para eliminar o saldo negativo de 15 mil euros e viver dentro dos seus rendimentos ou, ao invés, estabelecer como meta passar a perder apenas 4950 Euros em cada ano e ficar contente da vida?

Agora experimente acrescentar seis zeros à equação: de 15 mil euros, passemos para 15 mil milhões, o valor do déficit em 2009 (9.3% do PIB). De 145 mil euros, para 145 mil milhões (o valor da dívida pública acumulada - cerca de 87% do PIB e a aumentar). De 420 euros, para 420 milhões - o valor estimado da "poupança" prevista com as alterações ao IRS propostas no quadro do PEC. E de 4950 Euros, imagine a grande meta de 3% do PIB para o déficit: uns belos 4,950 milhões de euros/ano.

Assim parece estabelecer o plano de salvação nacional
- PEC - que além de se fazer passar pelo que não é, ignora propositadamente os efeitos da sua própria aplicação. Senão vejamos o que, por via do aumento de impostos, serão os efeitos macro económicos do PEC:

A curto prazo, aumentar impostos deixa os contribuintes com menor receita disponivel para consumo próprio e das respectivas familias. Como as poupanças são fruto do rendimento e este será menor, a médio prazo far-se-á sentir uma redução nas poupanças e, por consequência, no investimento. O aumento de impostos fará também abrandar o próprio investimento já programado, uma vez que os rendimentos expectáveis desses investimentos passarão a ser menores devido ao superior nível de taxação. Com menor poupança e investimento, a produtividade será afectada e fortemente reduzida, afectando ainda mais todos os rendimentos, incluindo os salários já prejudicados pelo aumento inicial de impostos.

As receitas dos governos têm duas grandes origens: emissão de dívida e colecta de impostos. Este esquema de financiamento exige um equilibrio apurado e sensível. A actual situação é reflexo da pressão sobre a dívida portuguesa. Quando uma familia contrai um empréstimo dá como garantia a hipoteca ou um outro bem; um governo oferece como garantia a capacidade de taxar os seus cidadãos. Medidas como o PEC visam apenas e só dar sinais aos mercados de que o governo ainda tem capacidade (e coragem) de executar essa garantia. Não é serio pensar que um exercício como o que fizemos no inicio seja considerado uma solução. Esta só poderá estar na outra face das contas do estado: num corte sério e significativo da despesa.

Aumentar impostos é o equivalente económico a "roubar a uns para dar a outros", uma vez que só quem paga efectivamente impostos (os que trabalham ou de alguma maneira criam riqueza) serão alvo de qualquer cobrança. Em 2008, de entre cerca de 4.6 milhões de familias, mais de 50% estavam nos primeiros 3 escalões de IRS, e cerca de 3.8 milhões auferiam menos de 982,00 Euros por mês BRUTOS. É fácil perceber que entre os contribuintes há os que contribuem com pagamento líquido de impostos e os que, no saldo, beneficiam dos impostos dos outros.

Existem apenas duas fontes de despesas essenciais num estado de direito: a SEGURANÇA e a JUSTIÇA. Mesmo considerando apenas um congelamento das despesas com a educação e a saúde (os eternos elefantes brancos) há ainda muito por onde cortar, sem que o país se desmanche... Haja coragem, frontalidade e INTELIGÊNCIA.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Badalhoquices

Com algum atraso, encontro um post de João Rodrigues no Arrasão sobre a Pordata. Descrevendo a base como "excelente", o autor assinala criticamente o seguinte facto: "o Estado cria ou ajuda a criar e os 'privados' ficam com os lucros ou, quando não é caso disso, com o que importa: a estima e os louros que o dinheiro consegue comprar em sociedades demasiado desiguais".
(...)

Olhando com a atenção para as fontes de Pordata, constato que a base beneficiou não apenas do trabalho de recolha e organização de dados que António Barreto fez quando estava no Instituto de Ciências Sociais (do Estado) mas também do trabalho de recolha e tratamento de dados feitos por uma multidão de instituições estatais, tais como o Banco de Portugal, o INE, vários ministérios, a Biblioteca Nacional e outras. Um escândalo, na verdade.

Só vejo uma solução: enquanto o Estado não assumir a responsabilidade de produzir uma plataforma que organize toda a esta informação e a torne acessível, os privados não lhe deveriam ter acesso para os fins que entenderem. Que é isto de comprar "estima e louros" com informação gerada com o dinheiro dos contribuintes?

(...)

Que é isso de usar competências académicas adquiridas numa sociedade demasiado desigual e dados produzidos pelo Estado para obter estima e louros na comunidade académica? Em rigor, acho que apenas o Estado deveria ter acesso aos dados que ele próprio cria ou ajuda a criar, para não haver cá badalhoquices.



Por Pedro Magalhães, no "Margens de Erro", em resposta a um "tal de" João Rodrigues, sobre o PORDATA (que se recomenda vivamente e que pode ser consultado em www.pordata.pt)

Venha e depressa, essa privatização

REN vai atribuir prémio de desempenho a Penedos com votos contra dos privados.

A REN vai atribuir, sob proposta da Parpública, um bónus a José Penedos pelo desempenho em 2009, ano em que a empresa foi envolvida no caso Face Oculta, disse à Lusa Filipe de Botton, accionista pela Logoenergia.

Esta proposta, aprovada hoje em assembleia-geral da REN, incluía o corte em 50% do montante máximo do bónus e passou com 40% de votos contra, nomeadamente dos accionistas privados. Inclui não só o ano de 2009, quando José Penedos liderava a empresa, bem como o mandato de Rui Cartaxo, que termina em 2012.

In: Jornal de Negócios, 15/03/2010

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Alucinados por decreto

Acham que isto está mau? Então esperem para ver o que aí vem:

O grupo chama à sua versão de capital contingente "títulos híbridos regulatórios". A ideia é simples: os bancos devem ser pressionados no sentido de emitirem um novo tipo de dívida que se converta automaticamente em capital próprio se as entidades reguladoras determinarem que se está perante uma crise financeira nacional sistémica e se o banco estiver simultaneamente a violar as disposições em matéria de solvabilidade previstas no contrato dos títulos híbridos.

E se dúvidas houvesse sobre a natureza da ... ideia, esclarecidos ficam desde já:

Os títulos híbridos regulatórios teriam todas as vantagens da dívida em tempos normais. No entanto, nos períodos mais adversos, quando é importante que os bancos continuem a conceder empréstimos, o capital dos bancos seria automaticamente aumentado através desta conversão da dívida em capital próprio. Os títulos híbridos regulatórios são, assim, concebidos para lidarem com a própria fonte da instabilidade sistémica que a actual crise pôs em relevo.

E para memória futura, para quando vierem afirmar que a culpa é da desregulamentação, aqui fica:

Esta proposta atribui também um papel específico ao Estado, que deverá incentivar a emissão dos títulos híbridos regulatórios, pois só assim é que os bancos o farão. Estes títulos aumentariam os custos de capital para os bancos (porque os credores teriam de ser compensados pelo mecanismo de conversão), ao passo que os bancos prefeririam contar com o seu estatuto de instituição "demasiado grande para falir" e com os planos de resgate futuro por parte do Estado em caso de necessidade. Assim, será preciso aplicar uma penalização ou atribuir um subsídio para incentivar os bancos a emitirem títulos híbridos regulatórios.

Não gostas da realidade? Acaba com ela. A realidade é apenas o que reconhecemos enquanto tal... Certo???

Já sabem da ideia, conheçam o idiota

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

A Viagem

Ele havia chegado mais cedo que o normal com um estrondoso ramo de flores, que jaziam agora no centro da mesa, como uma linha de fronteira entre ambos. Tudo se tinha passado neste dia como ela havia desejado. Ele levantou-se cedo e preparou o pequeno almoço que lhe deixara na mesinha de cabeceira com um cartão. Saira para o trabalho e fizera uma reserva para essa noite de forma a assinalar o dia. Agora, chegado o momento que exigira, ela não conseguia perceber o que estava errado e procurava desesperadamente uma forma de enquadrar os sentimentos no contexto. Sentiu-se aliviada quando o empregado se abeirou da mesa com a ementa para anotar o pedido - uma trégua na batalha que travava consigo mesma.

"Que vais querer?" perguntou ele, obrigando-a a fitar os seus olhos pela primeira vez desde que se haviam sentado naquela mesa.

"E tu?" respondeu, não como uma simples pergunta mas como quem lança um desafio.

"Tanto faz. Escolhe tu, que eu como o mesmo." rematou desinteressado.

Ela escolheu o primeiro prato da lista, não por uma qualquer preferência mas porque não se sentia com forças para ler o resto ou, talvez, porque num acesso de coragem repentino, desejava acabar com aquela trégua o mais rapidamente possível e voltar ao íntimo do seu campo de batalha.

Era sexta-feira e, há precisamente uma semana, ela tinha ficado a saber que hoje não estariam juntos. Ele estaria fora, numa oportunidade de viagem há muito desejada que lhe havia sido proporcionada para esta altura. Ela ficara a saber nesse mesmo dia e, contra todas as expectativas, conseguira expressar um tímido e nada sincero "fico contente por ti".

À medida que este dia se aproximava ela assistiu aos preparativos, escutou os telefonemas, presenciou as combinações e conversas intermináveis referentes à viagem que o esperava; e habituou-se a vê-lo numa aura de alegria despreocupada. Sem que ela se apercebesse, as palavras que diariamente trocavam foram diminuindo. No espaço de apenas três dias as discussões brotavam pelo pormenor mais insignificante e multiplicavam-se pelos minutos das horas que passavam juntos.

Três dias foi quanto levou para que ela se tivesse arrependido daquele tímido e falso "fico contente por ti" com que recebera a notícia. Desde segunda-feira, passara os dias a imaginar formas de lhe dizer o que verdadeiramente sentia. Queria - precisava - desesperadamente de apagar aquela falsidade proferida e confessar-lhe a verdade intestina que a consumia a cada segundo de cada minuto de todas as horas de cada um dos últimos três dias.

Nessa noite ele chegou de telefone em punho e pousou a mala à entrada do corredor. Seguiu para o quarto onde trocou os sapatos pelos chinelos que ela lhe havia oferecido no 5º aniversário de casamento, havia precisamente um ano e 4 dias. Passou pela cozinha onde lhe dirigiu um aceno terno e dirigiu-se para a sala de refeições para, como habitualmente, colocar a mesa para o jantar. "Chegamos na 6ª à noite... as reservas estão tratadas... do aeroporto ao hotel são uns minutos de táxi..." ia dizendo alegremente despreocupado, enquanto punha a mesa.

"Vais na sexta?" atirou ela, procurando parecer despreocupada.

"Sim, já te tinha dito."

"Ah! Pensei que fosses só sábado" mentiu. "não imaginei que não estivesses cá no nosso aniversário!"

"Desculpa" atirou ele, da forma mais sincera que ela jamais lhe tinha ouvido.

"Desculpa?!" disse indignada "desculpa pede-se quando se chega atrasado ou quando se pisa alguém no comboio, não quando se toma uma decisão consciente. Se até aqui pensei que nem te havias lembrado, esse «desculpa» dito dessa forma, lá do alto, só me diz que te lembraste, sabias e tomaste uma decisão"

"Que querias que dissesse ou que fizesse?" disse ele, sem sequer entender o que ela pretendia "não queres que vá? ficas feliz se eu não for?" perguntou.

"Acho que não deves ir. Acho que é uma falta de respeito e de consideração nem sequer colocares a hipótese de não ires ou de me levares contigo. Acho uma tremenda obscenidade a facilidade com que ignorámos até agora a questão do nosso aniversário e dessa viagem coincidirem na mesma altura. Acho uma tremenda aberração o facto de quereres continuar a ignorar esse facto"

"Desculpa, mais uma vez" disse, visivelmente desorientado.

"Vai à merda. Se não tens mais nada para dizer, vai à merda... e à merda da viagem" atirou ela, por entre soluços de raiva e mágoa, levantando-se da mesa e dirigindo-se para o quarto donde não mais saiu nessa noite.

Os restantes dias foram de um silêncio reciproco: dela para lhe recordar a exigência de uma escolha; dele por não saber o que dizer ou que escolha fazer.

Fora ontem, quinta-feira, que ele lhe dissera que havia cancelado a viagem na véspera. Ela sentiu um estranho arrepio na espinha, que tomou por uma reacção de felicidade pela escolha que ele havia feito. Esta manhã ela havia tomado o pequeno almoço que ele lhe deixara na mesinha de cabeceira. Fora ainda no confortável aconchego dos lençois que lera o cartão que acompanhava o tabuleiro: "Hoje venho mais cedo, está pronta para sair às 19h00, beijos." Ela experimentou novamente a sensação daquele estranho arrepio na espinha, que tomou por uma reacção à surpresa que a esperaria nessa noite.

"Não comes?" perguntou ele, fazendo-a notar que o empregado já havia servido a refeição.

Ela abriu nova trégua na batalha que travava, serviu-se duma garfada e perguntou: "Estás feliz por estar aqui?"

"Claro minha querida, feliz aniversário" disse, ao mesmo tempo que levantava o copo e lhe propunha um brinde.

Ela levantou o copo de encontro ao dele fazendo com que se tocassem levemente e emitissem uma pequena vibração que ela sentiu apoderar-se dos seus dedos, da sua mão e, lentamente, de todo o seu corpo, revelando-lhe a natureza dos arrepios que sentira na vespera e nessa manhã. Um sentimento de terror apoderou-se de toda a sua mente.

Ela exigira e influenciara uma decisão e ao fazê-lo, retirou-lhe todo o valor. A uma decisão vazia quantas não se seguirão? A que preço? Como poderá saber e distinguir umas de outras? Como poderá ela, a partir de agora, distinguir entre um sacrifício e uma vontade genuína?

Ela não sabia, ainda não podia saber, que era uma verdadeira egoísta. Não sabia, ainda não podia saber, que a mais sedutora forma de ser amado é sê-lo por um verdadeiro egoísta. Este dará a quem verdadeiramente ama o melhor que tem: dar-se-á a si próprio. Um verdadeiro egoísta jamais se contentará com algo que não tenha merecido. Dar-se-á sem sacrifício, por interesse próprio e não se contentará com sacrifícios feitos em seu nome, mas apenas com uma vontade genuína de entrega.

Ela percebeu finalmente que nunca desejou que ele ficasse. Nunca desejou que ele não fosse. O que não a deixava respirar e viver era, na verdade, o desejo sufucante de que ele nunca tivesse desejado partir.

Um estrondo fê-la recompôr-se. O copo caira-lhe por entre os dedos e o seu conteúdo regava agora as flores no centro da mesa. Ela podia ver - ou imaginar - as flores a crescerem espontâneamente. Aquela linha de fronteira entre ambos crescia agora diante dela e a olhos vistos.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Recursos naturais

Para nós, [a liberdade de imprensa] corresponde ao poder dos jornalistas, e só deles, decidirem o que escrevem nos jornais onde trabalham, com garantias de autonomia face ao poder político, sim, mas também económico. E a um verdadeiro pluralismo político que não se limite ao centrão ideológico.

Segundo Daniel Oliveira, João Rodrigues, Pedro Sales, Pedro Vieira, Rui Bebiano e Sérgio Lavos, os jornais crescem nas arvores.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Duelo literário

Aproveitei a tarde de hoje para espreitar a Feira do Livro Antigo e do Alfarrábio no Mercado da Ribeira, por onde também passou - porque o vi - Paulo Branco, quiçá procurando fontes para futuras produções.

Na generalidade, uma boa exposição literária. A minha mais nova (6 anos) apareceu com um livro de dinossauros todo artilhado e, não por coincidência, dos mais caros. Daqueles livros em que uma imagem da besta é sobreposta pelo desenho do seu esqueleto numa folha de acetato e, entre ambas, uma simples folha branca. A pequena puxava a folha para fora e via o dinossauro no seu ambiente. Empurrava para dentro e, vendo apenas o esqueleto, exclamava contente: "Olha Pai: magia!!!"

Quando lhe mostrei a folha de acetato separada do desenho das bestas, explicando como a coisa funcionava, exclamou com toda a indignação que os seus 6 anos lhe podiam permitir: "Oh, estão-nos a enganar!". E lá foi toda lampeira, para alívio da carteira familiar, buscar um livro sério e sem excentricidades no preço.

Como feira de livros antigos, o que nos lá levara, não se pode dizer grande coisa: nada de grandes raridades e umas quantas (poucas) curiosidades históricas. Encontrei, isso sim, algo de que gosto particularmente: livros usados. Usados e não livros em 2ª mão. Se há coisa que detesto são livros que ninguem lê, ou que ninguem usou. Para isso prefiro novos. Usado é isso mesmo: lido, manuseado, marcado, sublinhado, anotado, rabiscado e outras coisas acabadas em "ado" que possam transmitir a sensação de que alguém, uma mente humana, dali retirou algo.

Adquiri 2 reliquias por 3 e 2 euros respectivamente: "A situação das ciências do homem no sistema das ciências" de Jean Piaget e "A brief History of Time" do físico teórico Stephen W. Hawking. Nada de especial pela edição em si mas que me chamaram a atenção pelas passagens fortemente marcadas a tinta pelos seus anteriores proprietários.

Das palavras de Stephen Hawking, a mente que o leu anteriormente destacou, a feltro cor-de-rosa, as seguintes passagens (traduzidas do inglês):

O sucesso das teorias científicas, em particular Newton e a gravidade, levou o francês Marquis de Laplace a defender, no inicio do sec. XIX, que o universo era completamente determinista. Laplace sugeriu que deveria haver um conjunto de leis científicas que possibilitassem prever tudo o que pudesse acontecer no universo.(...) Se soubermos a posição e a velocidade do sol e dos planetas num dado momento, podemos usar as leis de Newton para calcular o estado do sistema solar no futuro. PArece obvio neste caso, mas Laplace foi mais longe e assumiu que haveria leis a reger tudo o resto, incluindo o comportamento humano.

(...) As implicações [da teoria quântica] no determinismo só foram compreendidas em 1926, quando o alemão Werner Heisenberg formulou o seu famoso príncipio da incerteza.(...) para prever a futura posição e velocidade de uma partícula, temos de medir o sua actual posição e velocidade de forma exacta. A maneira de o fazer é incidir luz sobre a partícula (...) Contudo, segundo a teoria quântica, teremos de usar pelo menos um quantum de luz (...) que irá afectar a partícula e alterar a sua posição e velocidade de forma imprevisível(...)

O principio da incerteza de Heisenberg é uma propriedade fundamental e inevitável do universo

Aplicando o príncipio da "Razão de Occam", Heisenber, Erwin Schrodinger e Paul Dirac reformularam a mecânica numa nova teoria, baseada no principio da incerteza: a mecânica quântica.

Com efeito, [a mecânica quântica] tem sido um estrondoso sucesso e está na base de quase toda a ciência e tecnologia moderna

Na página 78 da relíquia Jean Piaget, uma outra mente sublinhou vincadamente a esferográfica vermelha o seguinte (no contexto da descentração no método científico):

(...) a descentração consiste já em não partir do pensamento individual como fonte das realidades colectivas, mas em ver no indivíduo o produto duma socialização.

Comparando, do mesmo modo, os desenvolvimentos multiplos da macroeconomia nos começos da ciência económica, com Adam Smith ou Rousseau, ficamos espantados com a descentração que se efectuou a partir desta abstração que era o homo economicus, imagem do individuo em certas situações sociais restrictas e muito especializadas: tanto na doutrina marxista da alienação, como nas análises probabilísticas e estatísticas de Keynes ou da econometria moderna é impossível não encontrar esta dimensão fundamental da descentração comparatista

Curiosa resposta foi dada pela mão que empunhou aquele feltro cor-de-rosa que, na página 73 da obra de Stephen Hawking sublinhou:

Poderá haver anti-mundos e anti-pessoas, totalmento compostos por anti-particulas. Contudo, se algumas vez encontrar o seu anti-eu não lhe aperte a mão.

Apetece-me gritar como a minha pequena: "Oh! Estão-nos a querer enganar". Vai ser curioso analisar as diferentes ideias que cada mente retirou de cada livro que leu. Estes dois serão, sem duvida, lidos em parelha. Com especial curiosidade e interesse naquele feltro cor-de-rosa...

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

A licção de Chavez

A discussão tem, ultimamente, aparecido de forma regular. Quando a realidade aperta, e os delirios e delirantes são confrontados com a dura natureza e com a forma das coisas, a discussão aquece.

Muito se tem falado da moeda unica e da sua manutenção, da coesão interna da UE, económica e política - de que serve afinal uma união desunida pela adversidade? - num quadro de medidas que são, afinal e meramente, os típicos intevencionismos solidificados durante todo um século. Ninguém ousa pensar fora da pequena caixa de areia do recreio em que se transformaram a sociedades contemporâneas.

Em Novembro passado, o diário espanhol "El País" refletia sobre esse mesmo recreio, num artigo intitulado: "é possivel uma desvalorização interna?". A crua natureza objectiva da realidade, a que se vive fora da caixinha de areia, faz-nos sentir a concreta e inevitável desvalorização. Dentro da caixa, prostitutas e proxenetas equacionam as várias possibilidades de, manobrando uma massa de marionetas, articularem e/ou contrariarem a própria realidade.

Atados e amordaçados pela moeda unica, conjecturam soluções para "una devaluación interna que tuviera unos efectos similares a la tradicional "vía bajada de precios, sueldos y salarios"". Mas nesta caixinha, a "bajada" lê-se afinal "Los salarios españoles deberían crecer durante muchos años por debajo de la zona euro" - No coments...

Qual tubo de ensaio, as propostas de experiência na caixinha variam desde "una deflación del 20% de precios y salarios", passando por "una bajada de cinco puntos en las cotizaciones sociales y una subida de dos en el IVA" - que tipo de "bajada"? - ou ainda "reducir nuestros costes, no sólo el salarial; sino los energéticos, los de las infraestructuras...". Ninguém parece estar farto de tanta marioneta e de tanto cordelinho.

Chavez dispensou as prostitutas. Com uma mestria inacessível a aprendizes e aspirantes a proxenetas, passou à acção dispensando os preliminares. No nosso lado da caixinha, ainda que a medo e paulatinamente, vai-se também afirmando, em relação á desvalorização por decreto que "Dada nuestra situación económica, es la mejor opción a corto plazo para ganar competitividad pues hace todo el trabajo de una vez, y tiene menos efectos secundarios que otras opciones" - que "efeitos secundários" eu nem pergunto...

Neste lamentável quadro de opções, e admitindo a inexistência de um mundo livre, duma realidade natural e objectiva, negando a justiça dos direitos naturais de cada individuo e alinhando com essa corja de parasitas intelectuais que proclamam a inevitabilidade de uma sociedade canibal, podemos minimamente dizer que: louco por louco, antes os que se assumem.

domingo, 24 de janeiro de 2010

De "slow growth" a "slow death" em 30 minutos

FMI??!! Onde??!! Quando??!! Não ouvi...



Conselhos??!! Eu??!! "Not our role"... Cortar vencimentos??!! Tumultos??!! Nahhhh, isto é tudo mansos...



Aa2... TGV... Aeroporto... Junk Bonds

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Diz-me com quem andas...

... dir-te-ei quem és.

Passado o ano, retomo a escrita destes apontamentos com uma breve nota (já que o tempo escasseia), para salientar algo que a maior parte do mundo, distraído com a recente maximização das catástrofes de longa data no Haiti, parece não notar: uma tragédia humanitária por decreto de um homem só.

Dia 8 de Janeiro, Hugo Chavez anunciou a desvalorização da moeda venezuelana em 50%, por decreto, com efeitos a partir de dia 11.

Dia 12 pela manhã, todos os venezuelanos acordaram com metade do poder de compra, já de si miserável, que tinham na véspera. Viram o produto do seu trabalho, os seus ordenados e/ou reformas e as suas poupanças reduzidas a metade por mera vontade e capricho de um bronco embriagado pela ilusão de poder.

Paralelamente, Chavez e a sua corte recebem agora o dobro do que recebiam pela venda do espólio.

Para tentar evitar o INEVITÁVEL, as empresas foram proibidas de aumentar os preços, o exército colocado de prevenção, tendo Chavez dirigido um sonante apelo a todos os parasitas: "denunciem as empresas que aumentarem os preços para que nós possamos ocupá-las e nacionalizá-las".

Interroguei-me, à luz de um imperioso juizo moral: "Que género de homem deseja viver num país destes?". Certo que não haveria ninguém, depressa me desiludi. Todos aqueles que acorreram a informar o governo das empresas que aumentaram os preços, desejosos da ocupação, na ânsia do saque e do trabalho honesto de outrem, todos esses parasitas e saqueadores não outro país onde se sintam tão bem.

Alguns poderão pensar que nós, aqui em Portugal, nada temos com isso. Os media nacionais assim parece, dada a relevância que prestaram ou prestam ao assunto. Uma nota apenas, hoje, na imprensa económica, é suficiente para demonstrar o contrário:

Falta de divisas na Venezuela está a dificultar o repatriamento de capitais de empresas portuguesas.

O embaixador português na Venezuela vai reunir na próxima semana com as autoridades de Caracas para tentar ultrapassar as dificuldades sentidas pelas empresas portuguesas no repatriamento de capitais. A informação foi confirmada ao Diário Económico pelo ministro da Economia, Vieira da Silva, que cumpre hoje o segundo dia de uma visita oficial à Venezuela.

"Para a semana está marcada uma reunião entre o embaixador português em Caracas e as autoridades venezuelanas para ultrapassar esta situação que afecta não apenas as empresas portuguesas, mas todas as multinacionais com actividade na Venezuela", disse Vieira da Silva em declarações ao Diário Económico a partir de Caracas
In Diario Económico, 2010/01/22.

Curioso como o Ministro não se fez acompanhar dum batalhão de jornalistas e da corte habitual de bobos. A era dos "magalhanes" parece ter chegado ao fim. Diz-me com quem andas...

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Suborno, Chantagem e Resgate

Europa ajuda países pobres na luta contra alterações climáticas
Os 27 países da União Europeia já estão de acordo e está definido o valor de apoio aos países em desenvolvimento na luta contra a redução dos gases com efeito de estufa. Portugal irá contribuir com 12 milhões de euros por ano. [2.4 mil milhões no total dos 27]


Um euro ou 2.4 mil milhões, triliões ou quadriliões deles não alteram a natureza da coisa, apenas o seu grau.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O poder da dívida e a mão do estado

Aerosoles, 2005:

"Aerosoles projecta abrir mais 50 lojas até 2009: O grupo Investvar estabeleceu como meta abrir mais 50 lojas de calçado Aerosoles até 2009, esperando atingir, neste prazo, as 140 unidades comerciais em todo o mundo".

Fonte: entrevista ao "Vida Económica", Dezembro de 2005; reproduzida no "Noticias de Ovar".


Aerosoles, 2006:

"Nunca faço planos para anos, depende. Até porque há processos de industrialização ou de novas indústrias que necessitam da introdução de métodos novos" e, se "não tivermos subcontratados preparados para o fazer, recorremos nós próprios ao investimento"

Fonte: DN


Aerosoles, 2008:

"Hoje se voltasse atrás faria duas coisas. Fazia investimentos mais concentrados em grandes cidades e em menos países" (...) "Hoje teria menos países e menos cidades. Haveria uma estrutura mais fácil de gerir no seu todo"(...)

Não foi essa empresa ideal que Artur Duarte administrou durante anos. Seguindo uma estratégia expansionista, sustentada num cenário de crescimento da economia mundial, o grupo Investvar investiu fortemente na sua cadeia de retalho. Até 2012, o grupo pretendia gastar 45 milhões de euros para criar uma rede internacional de 300 lojas Aerosoles.

(...) 2004 marcou o início de ainda outro problema para o grupo luso. Este é o primeiro ano completo de actividade da Front Shoes. Esta empresa foi constituída, em 2003, pelo Estado português (...)

"Numa situação de boom não seria um problema"

Fonte: Expresso

"O presidente da Aerosoles disse hoje (23/06/2008) que o plano de crescimento da rede de retalho do grupo está parado à espera de um aumento de capital de operadoras públicas de capitais de risco que "já devia ter chegado"

Fonte: RTP


Aerosoles, 2009:



"Solução" para a Aerosoles:

"Governo vai (RE)intervir na Aerosoles e na Rhode, garante Vieira da Silva"

Fonte: RTP

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Derrubem os muros



No dia em se recorda e evoca a liberdade, convém não esquecer os muitos muros que ainda falta derrubar.


Se houvesse aqui ao lado um pequeno país onde existisse liberdade de escolha na saúde, na educação e na segurança social, o regime sob o qual vivemos também teria que murar Portugal para manter cá dentro a população contribuinte.


João Miranda, in Blasfémias

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

A palavra, a verdade e o poder



WORDS WILL ALWAYS RETAIN THEIR POWER

Good evening, London. Allow me first to apologize. I do, like many of you, appreciate the comforts of the everyday routine. The security of the familiar, the tranquility of repetition. I enjoy them as much as any bloke. But in the spirit of commemoration whereby important events of the past usually associated with someone's death or the end of some awful, bloody struggle are celebrated with a nice holiday. I thought we could mark this November the 5th. A day that is, sadly, no longer remembered by taking some time out of our daily lives to sit down and have a little chat. There are, of course, those who do not want us to speak. Even now, orders are being shouted into telephones and men with guns will soon be on their way.

Why? Because while the truncheon may be used in lieu of conversation. Words will always retain their power. Words offer the means to meaning and, for those who will listen, the enunciation of truth. And the truth is there is something terribly wrong with this country, isn't there? Cruelty and injustice, intolerance and oppression. And where once you had the freedom to object to think and speak as you saw fit, you now have censors and systems of Surveillance coercing your conformity and soliciting submission. How did this happen? Who's to blame? Certainly there are those who are more responsible than others and they will be held accountable. But again, truth be told, if you're looking for the guilty you need only look into a mirror.

I know why you did it. I know you were afraid. Who wouldn't be? War, terror, disease. There were a myriad of problems which conspired to corrupt your reason and rob you of your common sense. Fear got the best of you and in your panic, you turned to the now High Chancellor Adam Sutler. He promised you order, he promised you peace and all he demanded in return was your silent, obedient consent. Last night, I sought to end that silence. Last night, I destroyed the Old Bailey to remind this country of what it has forgotten.

More than 400 years ago, a great citizen wished to imbed the 5th of November forever in our memory. His hope was to remind the world that fairness, justice and freedom are more than words. They are perspectives. So if you've seen nothing, if the crimes of this government remain unknown to you then I would suggest that you allow the 5th of November to pass unmarked. But if you see what I see if you feel as I feel, and if you would seek as I seek then I ask you to stand beside me, one year from tonight outside the gates of Parliament and together, we shall give them a 5th of November that shall never, ever be forgot.


Via O Insurgente

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Ataque à personalidade

Para os mais cépticos em relação à tese da destruição - via inflação - dos direitos, vale a pena ler este editorial do New York Times de 21 de Setembro passado, sobre os direitos das corporações ou empresas.

Ponto de partida do editorial, a pergunta "que direitos constitucionais devem ter as empresas?" demonstra claramente a negação do que deve ser uma empresa e até mesmo um direito.

A natureza humana impõem certas condições para a sobrevivência do individuo. Esta sobrevivência não é automática nem garantida. Este é o fundamento dos direitos naturais do individuo: direitos de acção como o direito a pensar, criar e manter valores que garantam a sobrevivência do individuo. Num contexto social, um direito é um CONCEITO MORAL que garante a aplicação dos direitos individuais na esfera da sociedade e na relação do individuo com outros.

Da mesma forma que não existem direitos que não tenham a sua origem e fundamento no individuo, também não há entidades que possam possuir mais ou diferentes direitos que os que assistem aos seus respectivos membros. Se uma empresa é uma forma de organização de individuos, esta não poderá ter mais ou diferentes direitos do que aqueles que assistem a esses mesmos individuos.

Mas o editorial pretende convercer-nos de que as empresas deverão ter bastante menos direitos do que as pessoas que dela fazem parte. Passando pela arrogância de usurpar as intenções dos fundadores da constituição norte-americana, e a partir duma questão de intervenção política duma instituição sem fins lucrativos que lançou uma campanha contra Hilary Clinton por altura das primárias, promove o ataque ao que se convencionou chamar de "doctrina da personalidade empresarial".

O verdadeiro alvo deste ataque não é o "empresarial" mas sim a "personalidade". Sob o pretexto de combater um não-conceito, fica aberto o caminho para a relativização de toda e qualquer forma de personalidade.

É ilustrativo do estado da sociedade actual a forma como o New York Times se tornou albergue de patacoadas tão ignóbeis como "as empresas podem deter propriedade e direito limitado(!) de livre expressão, podem processar e ser processadas; mas não podem votar, candidatar-se a cargos publicos ou usar armas."

Não sei o que será a limitação do direito de livre expressão! Os limites dos direitos individuais são a não violação dos direitos individuais de outros. Um limite ditado, não por legislação, mas por dever natural de coerência. A propriedade de uma empresa mais não é do que uma forma de organização de co-propriedade entre os membros dessa empresa, tal como o direito de processar e/ou ser processada.

O direito de voto é, na verdade, a delegação de um direito individual. A liberdade de voto implica, por natureza, a liberdade de escolher a forma dessa delegação. Se um grupo de sócios ou trabalhadores de uma empresa decidem votar em conjunto num determinado sentido, mais não fazem do que usufruir de um direito tal como um grupo de amigos, familiares ou militantes de um partido fazem regularmente.

Se uma empresa decide incentivar, convidar ou apoiar sócios e funcionários a concorrer a um cargo público, não faz mais do que qualquer outra forma de organização de individuos cujos fins são, muitas vezes, exclusivamente esses mesmos (p.e. partidos).

Se uma empresa decidir que, nas suas instalações, os seus funcionários ou sócios podem usar arma, mais não faz que estabelecer regras de comum acordo sobre a aplicação prática a um determinado espaço de um direito individual (e constitucional nos EUA).

Isto porque, numa sociedade livre, uma empresa não seria nada mais do que uma organização livre de individuos. Não deteria mais nem diferentes direitos do que os que assistem aos respectivos individuos que livremente a comporiam. Estaria legal e naturalmente limitada pelo estrito cumprimento e respeito pelos direitos individuais de todas as outras organizações e/ou individuos. Hoje, há muito tempo, que não é assim.

O editorial é obviamente claro nos aspectos em que as empresas devem manter a sua personalidade: "devem poder ser punidas quando poluem ou quando violam as leis laborais". No entanto, nada diz sobre as leis laborais e outras, que VIOLAM os direitos naturais dos individuos, como o livre comércio e a livre contratação.

Sem fazer qualquer critica às relações entre o poder político e as empresas, mas afirmando que "a lei dá às empresas estatuto especial ao lhes conferir responsabilidade limitada, regras especiais para acumulação de bens e capacidade de vida eterna", ignora propositadamente a origem da má concepção das empresas (e do estado) como entidades supra-humanas.

Da proxima vez que lhe falarem na defesa dos direitos, lembre-se que esta é a verdadeira marca que querem apagar da memória do Homem. O perigo duma sociedade que ignora a filosofia e recusa a sua aplicação política como forma de implementar principios fundamentais de organização da sociedade é o de tornar muito mais fácil e rápido o processo destrutivo dos direitos individuais.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Paz e escravatura

Os prémios Nobel são fruto de uma fundação privada e, com a sua propriedade, cada um faz o que bem entende.

O dever moral a ser exercido não é o de julgar do mérito ou demérito da atribuição do Nobel da Paz a Barack Obama. Se, nessa matéria, algo importante fosse necessário afirmar, as palavras do próprio galardoado bastariam: "não mereço estar na companhia de tantas figuras transformadoras que foram honradas (...) pela sua procura corajosa da paz" [destaque meu].

A coragem de cumprir o dever moral deve ser exercida, sim, mas no julgamento das causas explícitas e implícitas desta atribuição e dos efeitos que a mesma produzirá. Efeitos esses que constituirão o cumprimento de objectivos específicamente determinados. É na natureza dos objectivos que radica a moralidade da acção.

Um julgamento moral é um exercício objectivo e racional que deve ser aplicado ao objecto e ao sujeito, identificar e classificar as escolhas.

O Nobel da Paz - o objecto - visa premiar a busca e promoção da paz. A paz não é apenas, como se possa pensar, o oposto ou a ausência de guerra. Paz é sinónimo de civilização. Ela implica a total ausência de coação e do uso da força. Paz encerra em si a condição de que todos os Homens cooperem entre si exclusivamente por meio de Razão e mútuo acordo. Paz é liberdade: a liberdade de cada homem viver por si mesmo, sem se sacrificar por outros nem pedir que outros se sacrifiquem por si.

Barack Obama - o sujeito - é, antes de presidente americano, um individuo. Mas a sua condição de sujeito neste nosso exercício é-lhe explicita e exclusivamente conferida pelas suas funções. Enquanto presidente americano Obama é, no mínimo, uma figura controversa. A sua "filosofia" política, que tem granjeado o apoio da Europa e de metade dos norte-americanos, ao mesmo tempo que a outra metade o repulsa cada vez mais, marca uma época no país dos sonhos e no mundo.

Obama parece ser o rosto e a voz de uma nova ordem que tende a conduzir a nação mais livre do planeta ao encerramento de uma fase de "mera socialização". Iniciada com Rosevelt e o New Deal nos anos 30, a "socialização" evolui para uma colectivização cada vez mais explícita. Para gaudio da velha Europa e dos muitos que buscam o sonho americano sem nunca o terem sequer entendido, o estado social e outras "virtudes" do socialismo que tão lentamente foram corroendo a sociedade norte-americana ao longo do século passado, galgam agora terreno a olhos vistos.

Não podemos ignorar que, mesmo considerando a (agora) grande oposição dos americanos a esta tendência, a esmagadora maioria desses opositores se rege por padrões que mais não são que o verso da mesma moeda: o individuo para a sociedade. Apenas uma (muito) pequena parcela desta oposição conhece e entende os verdadeiros principios sobre os quais se edificou um país livre, a prosperidade industrial e um vislumbre de civilização: a sociedade pelo individuo.

Atribuir ou não - a escolha - um prémio em nome da paz e da liberdade a uma personalidade onde convergem todas as forças contrárias a esses valores deveria ser uma escolha clara. Ainda para mais se, à falta de acções objectivas de tal agente, o prémio se baseia explicita e exclusivamente nessa sua função.

À luz dos acontecimentos, não é de excluir que daqui a umas décadas este prémio atribuido em nome da paz venha a ser o responsável pela miséria e morte de mais seres humanos do que a cortina de ferro. Ao invés de premiar objectivamente o que quer que tenha sido alcançado, visa apenas consolidar o papel mesiânico do catalizador e centro de convergência duma nova ordem esclavagista.

Não é a primeira vez, nem será a última, que o nome de Alfred Nobel é vilipendiado. Mas a questão verdadeiramente relevante é que o seja recorrentemente através do "Nobel da Paz" e do "Nobel da Economia". O primeiro é o único que depende de uma organização política. O segundo não foi sequer o Sr. Nobel que o criou mas sim o banco central sueco em 1968. Estes dados deveriam ter algum significado e explicar muita coisa.