terça-feira, 9 de junho de 2009

Europeias: digestão ou congestão?

Uma digestão a 48 horas tem as suas vantagens. Depois da breve ventilação que aqui fiz houve oportunidade para novos desenvolvimentos virem a lume e muitas reacções e... meus amigos... houve de tudo. Nem sei por onde começar. Vamos por fases.


As "minhas europeias":

Talvez deva esclarecer que não votei. A começar por estar a mais de 250 Km da minha mesa de voto e acabar por concluir que o esforço da deslocação exigiria um retorno que não era expectável que obtivesse. Acaso o esforço a fazer e o retorno exigivél fossem menores teria ido à mesa de voto escolher entre branco, nulo ou... MPT. Não por uma qualquer simpatia para com o planeta, mas porque era a única forma de expressar algum apoio ao Libertas, o primeiro partido pan-europeu, nascido no rescaldo do referendo Irlandês. Desta forma tornei-me num abstencionista consciente: não tendo nada a receber em troca que se equivalesse ao sacrifício, não votei.


Os protagonistas:

Segui meio distraido as declarações da noite e, na forma, Paulo Rangel esteve melhor que Manuela Ferreira Leite, nada de extraordinário. Mais surpreendente foi o facto de Nuno Melo ter estado melhor que Portas a quem nem a emoção favoreceu. Quiça terá sido até prejudicial à imagem que o CDS e ele próprio preferem promover de homem e partido de estado: para funções de grande responsabilidade a fragilidade emocional ou a emotividade excessiva não são grande vantagem.

No conteúdo, Rangel tentou o que devia: condicionar as grandes decisões do governo para os próximos 3 meses. Os simpatizantes da oposição aplaudem, os do governo consideram sobranceria. Mas, lendo os resultados e extrapulando-os da mesma forma num espectro mais abrangente, Louçã fez a mesma coisa: avisou que com estes valores (e apesar de ser uma vitória eleitoral) o PSD não tem nenhuma garantia nem grande margem de manobra para exercer pressão política.

Se por um lado o PSD usa os resultados para sustentar a suspensão das grandes decisões de despesa do estado (não, não é investimento), então Louçã e Jerónimo de Sousa podem usá-los para exigir que o PS proiba desde já os despedimentos e nacionalize tudo e mais alguma coisa.

Mas podemos estar descansados porque todas estas declarações são fait-divers. Sócrates anunciou que se mantém no mesmo rumo portanto, vamos ter a despesa pública e, pelo menos por enquanto, nem a proibição dos despedimentos nem nacionalizações em massa irão avançar.


Os resultados:

Dos resultados salta à vista a abstenção. Nada de surpreendente porque se tratam de europeias e porque é assim mesmo. Se acham que a europa se faz contra os povos europeus, recusando referendar o projecto e, quando o fazem, anulando a vontade popular através de golpes administrativos, enganam-se. E enganam-se ainda mais se pensam que basta chamarem o Figo, a abelha maia e outros "Cíceros" e "Platões" da sociedade moderna para apelar ao voto. Seria curioso saber se o Figo e outros artistas, da bola e não só, estariam disponíveis para fazer campanha e apelos a referendar o Tratado de Lisboa? Será que consideram os referendos como particípação cívica?

Ainda sobre a abstenção, vale a pena fazer algumas contas: o partido mais votado obteve o voto de 9,5% dos portugueses, o segundo menos de 8% e os restantes partidos (todos juntos) menos de 9% (In: JN, por Manuel António Pina). Parabéns a todos... Afinal apenas o PS tinha perdido!!!

Para uns o PSD ganhou, para outros nem por isso; para todos o PS parece ter perdido e o BE parece ter ganho; a CDU para uns cresceu, para outros foi ultrapassada pelo BE; e o CDS ganhou às sondagens e resistiu para uns, para outros passou a 5ª força política. É só escolher o que se quer ver.

Eu constatei a eleição de 15 socialistas ou sociais-democratas, de 5 comunistas, mauistas ou trotskistas e 2 conservadores para representarem o meu país no PE. Com naturalidade, os eleitores tendem a escolher mais o original (BE e PCP) em deterimento da cópia embaraçada do estatismo paternalista do outro bloco (o central) e da ditadura da alternância (PS e PSD). Constatei também que os conservadores portugueses que votam CDS continuam residuais e os outros continuam complexados (preferem criar um PPV) ou enganados e desorientados na DA/BC (entre o PS e o PSD).

As reacções gerais e genéricas que fui vendo:

O jubilo foi grande para a esquerda saltitante em direção ao poder, e o alarme soou nos detentores clássicos do poder e dos seus apoiantes (tanto o PS como o PSD). As buzinas e os sinos tocam a rebate e, depois da entusiástica euforia da vitória, o nervosismo é tal que se vai ao ponto de propôr coisas como o PSD tornar-se num barco para liberais e conservadores ou o CDS virar um partido libertário. Isto tudo em três meses só pode dar na versão portuguesa do Titanic ou num AirBus A330.

Na prática apenas mudaram as moscas. Substituir o socialismo pela social-democracia é o mesmo que trocar o Ben-u-ron pelo Brufen e os potenciais libertários (afinal conservadores) acabam de resuscitar a censura.

Há uma solução que não é execuível em três meses e que provavelmente só será possível depois dos resultados das próximas legislativas. Já aludi a alguns aspectos dessa solução nos comentários que fiz nos posts acima linkados (para quem quiser ir ler). Como este post já vai longo e o assunto até merece mais atenção, fica para a próxima.

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