(...) e depois andam a discutir conceitos e ng percebe nada do que voces querem dizer nem que utilidade vem ao mundo da discussao. Só assim se explica que se chegue ao fim de uma discussão sem saber se um dos maiores genios economicos do seculo XX era racional ou não
De facto!
Confundir Razão com raciocínio pode, por vezes, confundir a rejeição de um raciocínio errado (sem Razão) com a rejeição do processo de raciocínio propriamente dito e da Razão.
Um processo de raciocínio deve, por meio da Razão, reconhecer, identificar e interpretar a realidade. Mas pode também ser usado para criar uma lógica justificativa para uma decisão à qual se chegou através de um processo mental distinto, criando a ilusão de uma realidade diferente.
Esta é a origem das falhas morais e dos erros de julgamento e também o que as distingue. Um erro de julgamento acontece quando a realidade é mal percepcionada e interpretada. Uma falha moral é o resultado de ignorar conscientemente a realidade ou do uso do processo de raciocínio para construir uma lógica que justifique as nossas próprias contradições (contrárias à realidade).
A racionalidade não se manifesta no uso do raciocínio mas sim no uso da Razão. É o uso da Razão, e não do raciocínio, a diferença entre o racional e irracional.
O racionalismo cartesiano negligênciou este elo entre a Razão e a realidade, deixando o Homem e a Razão na orla duma omnipotência fantasiosa. É em contextos mal formatados como este que a realidade deixa de ser um elemento a ser reconhecido, respeitado e obedecido e passa a estar susceptível aos caprichos da racionalização.
O subjectivismo e a arbitrariedade encontram aqui uma forma de expropriarem e usurparem a própria Razão. O empirismo surge precisamente no campo oposto, defendendo a "experiência sensível". O "construtivismo", a meu ver, tem também as suas raízes neste vácuo entre a Razão e a realidade.
Foram muitas e variadas as formas de usurpação e expropriação da Razão pelos desprovidos de moral e pelos inimigos do Homem e da liberdade (p.e. Horkheimer chega a criar uma pseudo-teoria de "duas Razões" própria de um lunático) e que ainda hoje proliferam em nome duma planificação central e coerciva da sociedade. Uma nota apenas para os abundantes rótulos enganadores da generalidade destas doutrinas, como "construtivismo", que visam apenas obliterar a natureza destrutiva das mesmas e para a cândida aceitação que os mesmos têm por parte dos intelectuais "liberais" contemporâneos.
Hayek afirma, grosso modo, que O INDIVIDUO é quem está melhor informado sobre certas condições especificas da realidade que o rodeia que mais ninguém pode ter; e que tem a "oportunidade", por estar num certo local a uma certa hora, de aproveitar essa informaçao como nenhum orgão central (ou local para o efeito) poderá alguma vez ter. Ambos argumentos puramente racionais (com Razão). Hayek não faz a crítica da Razão mas do raciocínio, nem crítica o racional e o racionalismo, mas sim a expropriação da Razão.
A ordem espontânea tem um papel relevante no restabelecimento da ligação entre a Razão e a realidade mas, longe de "esgotar o racionalismo", reabilita-o e procurando colmatar a sua falha original. A falta de reconhecimento desta reabilitação é outro dos erros comuns correntemente em voga nos "liberais".
"Last but not the least", é um erro crasso fundamentar este fenómeno num "péssimismo epistemológico". O conhecimento individual é limitado, mas o conhecimento humano é potencialmente ILIMITADO. A verdadeira questão é moral e resume-se a:
Deve o Homem viver em função de si mesmo ou para e em função dos outros? E se deve viver em função de si mesmo (como deve), deve viver como um eremita ou em sociedade? E se deve viver em sociedade (como deve) que critério deve usar nas relações com os outros indivíduos?
É numa destas respostas, quiçá na primeira, que está o erro fundamental dos "liberais".
Mas até aqui Hayek nos dá um ponto de partida.
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